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Tinha uma pedra no meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.

(Carlos Drummond de Andrade)

São muitas as pedras no caminho de todos nós. Mas algo que “minhas retinas tão fatigadas nunca irão esquecer” é de como lidam com elas os romeiros do Padim Ciço!

Romeiro de Padre Cícero passa entre as pedras no final da trilha do Santo Sepulcro em Juazeiro do Norte, durante a Romaria de Finados

Uma gente simples, como uma vida dura como pedra e com muitas pedras em seus caminhos (tanto no sentido literal, como no sentido figurado).

Uma gente de uma fé inabalável, que observa as plantas que crescem sobre as pedras (quase um milagre da natureza) com a certeza de que o mesmo milagre poderá acontecer com eles.

Uma gente que se esforça, dia a dia, para retirar as pedras do meio do caminho e seguir em frente, sem ter que fugir da região onde nasceram, de onde está a sua história, de onde estão as suas raízes.

Vi muitas pessoas carregando pedras (literalmente) durante a caminhada na trilha conhecida como Santo Sepulcro (um percurso quase obrigatório para os romeiros durante as suas homenagens ao Padrinho Cícero Romão Batista).

Eles tiram uma pedra do meio do caminho.

Romeira de Padre Cícero carrega pedra na cabeça durante a trilha do Santo Sepulcro em Juazeiro do Norte, durante a Romaria de Finados

Como se o trajeto já não fosse duro o suficiente - pela distância, pela seca e pelo sol escaldante - os romeiros carregam o peso extra porque acreditam que o sacrifício adicional torna a homenagem ainda mais valiosa.

Escalam algumas pedras, sentam em outras para descansar e recobrar as energias para seguir em frente. Riscam outras com seus nomes, para provar que estiveram ali.

Placas indicativas das trilhas em Juazeiro do Norte, cheias de pedras levadas pelos romeiros de Padre Cícero durante a romaria de Finados

Com uma sensibilidade extrema, fazem uma promessa de voltar. Voltar e buscar a pedra que deliberadamente deixaram em algum ponto do caminho. Voltar no próximo ano, para reafirmar a sua fé e intensificar a demonstração de afeto e consideração pelo padrinho e por todas as bênçãos que ele concede às pessoas.

Impossível não se emocionar com as pedras nos caminhos dessa gente maravilhosa!

Romeiros de Padre Cícero sobem nas pedras no final da trilha do Santo Sepulcro em Juazeiro do Norte, durante a Romaria de Finados

Romeira de Padre Cícero escreve seu nome na base da estátua na Colina do Horto em Juazeiro do Norte, durante a Romaria de Finados
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