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Noite dos Tambores Silenciosos


Menino espera o momento da participação do seu grupo de Maracatu Nação durante a Noite dos Tambores Silenciosos

Bairro de São José, área central do Recife. No pequeno largo onde hoje se encontra a igreja de Nossa Senhora do Terço, escravos eram comercializados logo que chegavam ao Brasil.

É ali que se reúnem hoje, durante o Carnaval, na noite de segunda feira (dia das almas nas religiões de origem africana), os grupos de Maracatus de Baque-Virado, também conhecidos como Maracatu-Nação, porque representam diferentes nações africanas, raças e castas de gente de origens diferentes.

Desfilam pelas ruas do centro de Recife em memória dos escravos africanos que sofreram durante o período de escravidão no Brasil e, especialmente, para lembrar aqueles que faziam isso em silêncio no passado, porque não tinham direito a celebrar as suas raízes. Foi isso que deu origem ao nome Noite dos Tambores Silenciosos.

Detalhe da indumentária de uma princesa do Maracatu Nação na Noite dos Tambores Silenciosos

Os maracatus são ligados a religiões de matriz africana com o candomblé e, em geral, têm um orixá como patrono.

Rainha de Maracatu Nação ou Maracatu do Baque Virado na Noite dos Tambores Silenciosos

O rei e a rainha são os principais personagens. À frente do grupo, além do estandarte, vai a dama-de-paço, carregando a calunga, uma boneca que incorpora a força ancestral. Os grupos contam ainda com o vassalo, um escravo que leva o pálio (guarda-sol que protege os reis),figuras da corte como príncipe, ministros e embaixadores, damas da corte e as Yabás, mais conhecias como baianas, que são as escravas. Os batuqueiros, que animam o cortejo, tocam vários instrumentos sendo os principais a alfaia, o gonguê, xequerês e maracás.

O tambor tem lugar de destaque nesse evento. Ele é considerado o principal instrumento da orquestra dos xangôs e tem uma função mágica nas religiões africanas. Sua sonoridade envolvente tem um poder hipnótico sobre os adoradores de Orixás e, por isso, de gerar um elo mágico entre as criaturas humanas e as divindades.

Pontualmente à meia noite, um silêncio completo toma conta do ambiente. Tochas são acesas e levadas até a porta da Igreja. Uma voz entoa versos de louvor à rainha dos negros, Nossa Senhora do Rosário. As rainhas de cada um dos grupos levam seus estandartes para frente. O babalorixá responsável pelo ritual alinha os batuques e rege um coro de mães-de-santo que rezam com ele. Ele abençoa os membros dos maracatus e o público presente na cerimônia e termina o culto. Os tambores voltam a tocar e a festa continua noite adentro.

Milhares de pessoas disputaram o pequeno espaço e acompanharam a cerimônia de fé e cultura.

Apesar de que para os padrões atuais o Largo do Terço seria considerado um lugar incrivelmente estreito, ele é, como aparece na música de Lenine, “largo e profundo por seu rito bendito”.



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