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As misteriosas procissões dos Penitentes


Durante as celebrações da Semana Santa, muitos grupos de penitentes se reúnem pelo Brasil afora. A tradição vem, provavelmente, de uma procissão chamada de Endoenças que acontecia em Portugal, na Quinta-feira Santa, desde a Idade Média, com homens e mulheres se autoflagelando com cordas e objetos de ferro, confessando seus pecados em voz alta, mas que, por causa de abusos praticados, foi abolida pelo Papa Clemente VI no século XIV.

Atualmente no Brasil estas peregrinações acontecem na noite da Sexta-feira Santa (começando à zero hora do Sábado, na verdade) e o percurso realizado geralmente visita vários templos do município e termina no cemitério. Em cada igreja visitada é feita uma pausa para adoração, os penitentes e as pessoas que acompanham o grupo rezam, sempre em profundo recolhimento.

No município de Goiás, GO, os penitentes cantam uma ladainha bem solene. Os versos variam ao longo do percurso, com um dos penitentes puxando o coro com frases como:

Senhor Deus, misericórdia;

Pelas almas dos irmãos que morreram amargurados, misericórdia;

Pelas almas dos irmãos que não tiveram perdão, misericórdia;

Pelas almas dos irmãos que cometeram suicídio, misericórdia;

Senhor Deus, misericórdia.

Pelo momento em que esta procissão acontece, ela parece retratar, de algum modo, o percurso de Cristo até ao Calvário e, talvez por isso, ela inspira nas pessoas sentimentos de profundo respeito e reflexão.

A procissão passa pelo centro histórico de Goiás, com sua linda arquitetura (que foi mantida intacta nesta parte da cidade), o que a faz parecer uma volta ao passado, quase como se a gente estivesse vivendo uma noite que aconteceu há 100 ou 150 anos...

A atmosfera mágica que esta procissão gera é difícil de explicar: a cantoria dos penitentes faz a gente se sentir parte do grupo que pede misericórdia a Deus e o fato de que, no final do percurso, os penitentes entram no cemitério e “somem” (na verdade eles tiram suas túnicas e saem, sem que a gente se dê conta, como pessoas “normais”), deixa uma sensação de que eles também eram almas, que foram encaminhadas ao céu depois daquela reza... e que deixaram de estar entre nós com o término da procissão.

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